Comunicados
3º Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí – CONFIRA OS TRABALHOS SELECIONADOS
Resultado da seleção das propostas inscritas
3º Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí
O Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí vem se firmando como um espaço de conhecimento, reflexão e divulgação de textos contemporâneos. Há cada ano aumenta o número de inscrições, trazendo mais diversidade, propostas inventivas e qualidades, o que torna o trabalho da Comissão de Seleção cada vez mais exigente e atencioso. Com o objetivo de fomentar a produção de textos para a cena escritos por estudantes residentes no interior do estado de São Paulo, chegamos à terceira edição do concurso com 62 textos inscritos, sendo 32 de cidades do interior do estado e 30 textos de estudantes da capital e região. Recebemos textos e projeto em formatos os mais variados, o que demonstra o desejo de novas formas de escrita dramatúrgica. Nesta edição alcançamos uma maioria de textos inscritos vindos de cidades do interior, nos animando o fato de que tantas geografias diferentes estão produzindo textos e tomando conhecimento do concurso.
Como sempre, o processo de selecionar os textos premiados foi árduo, devido à qualidade dos textos recebidos e a variedade de territórios que essas obras representam. É um desafio instigante colocar as dramaturgias em debate, perceber o que as conecta ou as diferencia, ressaltar o potencial de cada proposta. Essa diversidade fortalece a importância de insistirmos neste concurso, na expectativa que novas vozes, novas histórias e novos imaginários coloquem em diálogo passado, presente e futuro para projetarmos outros mundos possíveis.
Nesta edição, as 05 (cinco) propostas selecionadas receberão o equivalente a R$3.000,00 (três mil reais). Todos os textos selecionados, incluindo os que receberão menção honrosa, serão integralmente publicados em uma Edição Extra da Buli – Revista de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí, edição de nº 03, periódico online previsto para 2024.
Assim, chegamos aos seguintes textos:
SELECIONADOS
A bota do soldado – Matheus Yoshino (Vargem Grande Paulista – SP)
Com diálogos ritmados e imagens potentes, o texto tem uma estrutura dramática que se abre para outras formas em um processo de cenas isoladas que falam por si, sem perder a força do todo. Encontros e desencontros em um contexto de uma guerra que nunca se mostra diretamente, mas deixa exposta seus efeitos em vidas humanas. Existe um ruído entre o contexto e a escolha das palavras que o autor usa, gírias e vícios lingüísticos que parecem não caber nessas pessoas é algo que o dramaturgo ainda pose se debruçar.
Tadeu Renato
Matheus Yoshino Russo é ator e autor dramático. É residente do estado de São Paulo e atualmente cursando graduação em artes cênicas na UFSC. Bolsista e integrante do NEEDRAM (Núcleo de Estudos em Encenação teatral e Escrita Dramática) e teve seu texto dramático ‘Os Saltadores’ selecionado para a quinta edição do projeto 1001 PLAYS, organizado pela GMU (EUA), do qual o núcleo faz parte.
Aquieta-te – Sílvia Alves (São Paulo – SP)
O texto apresenta um olhar sensível, atento e crítico a questões existenciais e socioeconômicas através da composição de situações do cotidiano que propiciam criar distintas relações paradoxais, por meio da associação da luta por melhores condições de vida para quem convive com doenças psicossomáticas. Estruturalmente, a dramaturgia é composta por uma narrativa não-linear, encadeada de um modo dinâmico e criativo que propõe um diálogo ativo na construção dos sentidos com quem lê a peça. Certamente, esse diálogo poderá ser potencializado na construção pluriperceptiva da encenação.
Viviane Juguero
Silvia Alves é uma atriz, formada pela Etec de Artes em 2018. Atuou profissionalmente no espetáculo “Utopia na Era da Incerteza”. Além de sua dedicação às artes dramáticas, Silvia nutre um profundo amor pela escrita e pela música, expressando sua criatividade e sensibilidade em várias formas de arte. Atualmente é estudante de Moda na Faculdade Santa Marcelina.
Desvão, Kasarth – Lucas Porfírio (Santo André – SP)
Entre as ruínas de uma cidade devastada pela guerra, três mulheres se vêem na luta pela sobrevivência, questionando-se sobre o sentido de seguir existindo. As memórias de um filho, a gestação de uma criança e a chegada de três soldados, tornam o enredo ainda mais complexo e angustiante. Como em um movimento espiralar, construído pela repetição de palavras e ações e pelo emergir de novas situações que se relacionam, a dramaturgia faz passado, presente e futuro conviverem numa tensão constante.Com diálogos dinâmicos e situações que parecemter por inspiração elementos da tragédia e uma certa lógica beckettiana,o texto envolve pela forma e apunhala pelo conteúdo.
Thiago Leite
Lucas Porfírio é ator, formado no curso Técnico da Escola Nacional de Teatro e Assistente de Dramaturgia pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul; atualmente cursando Bacharelado em Artes Cênicas pela UNESP.
Irmãs Coragem – Júnior Padovani (São Paulo – SP)
O texto é um retrato social de personagens marginalizados que utiliza a poética da cena e o comprometimento no discurso para evidenciar humanidades invisibilizadas no cotidiano. Três meninas se encontram na missão de sobreviver a um mundo que quer se livrar delas. Gentrificação e eugenia que anunciam a tragédia da democracia antissocial. Estruturalmente, é interessante o fluxo entre os recursos dramáticos e épicos, friccionando os limites da diegese. Não à toa as personagens (e suas atuantes) tomam a frente do palco para contar de forma direta suas vidas para nós. Escutemos.
Luh Maza
Junior Padovani, pernambucano de 26 anos, filho do nordeste, banhado nas águas do rio São Francisco, cresceu em Congonhas-MG, a cidade dos profetas de Aleijadinho. Corpo livre, alma leve, escreve as angústias de sua geração. Atualmente vivendo em São Paulo, é bolsista no curso de Teatro na Escola de Artes Célia Helena e na descoberta de um novo mundo, se entende não-binário. Autor de espetáculos premiados: A Nordestina (2018), Por Trás da Serra (2021), entre outros.
O andar debaixo ou nós não vamos sair porque a festa ainda não acabou – Luê Vanoni (Campinas – SP)
Sensível,o texto nosconvida a imaginarmos uma cena provável: possivelmente hoje, três senhoras de idade avançada estão desabrigadas, tentando entender para onde caminhar ou descansar durante a noite. Assim como as personagens Mércia, Zul e Celeida, atualmente vivem nas ruas, moram de favor, pagam aluguel, e sofrem com ameaças de despejo cerca 5,8 milhões de pessoas neste país. LuêVanoni,notando a luta das pessoas sem-teto, mobiliza uma importante discussão sobre envelhecimento, soluções habitacionais e bem viver.
Jéssica Nascimento Olaegbé
Luê Vanoni é estudante de Artes Cênicas da Unicamp desde 2020. Me interesso pela dramaturgia desde criança. Quando entrei na faculdade fiz cursos de dramaturgia com Ave Terrena e Michelle Ferreira para me aprofundar um pouco mais na escrita, em 2021 fiz uma iniciação científica em escrita dramatúrgica a partir dos contos de Murilo Rubião e acerca da demolição de casas sem aviso prévio na cidade de São Paulo.
MENÇÃO HONROSA
Sonhei que acordava– Luz Ribeiro (São Paulo)
É um trabalho potente, corajoso, que enfrenta com afrografias os apagamentos produzidos durante as atuais guerras do Brasil. Localizando o projeto dramatúrgico em termos geográficos, culturais e estéticos, Luz Ribeiro risca o seu encantamento primeiro: “Esse palco está situado em terreno originário”. Revirando a terra, negociando e enganando o tempo, Luz faz uma oferta, entrega ritmos e poesias, e alcança um terreno para plantar as sementes de uma peça teatral que celebra processos de cura com Obaluaiê.
Jéssica Nascimento Olaegbé
Luz Ribeiro é artista. Em tempos de redes sociais, luz ribeiro prefere pousar em redes de balanços e afetos. Tem alguns seguidores, mas luz sonha em ter sempre com quem seguir. Integra o grupo de pesquisa e teatro “coletivo legítima defesa”. Escreve desde que fora alfabetizada e nem por isso se acha poeta. Sonha com o dia que será poesia. É estudante do curso de Dramaturga da SP Escola de Teatro.
Velas de Papel – Igor Severo (São Paulo)
Um sujeito sem nome, periférico e diaspórico narra suas memórias e experiências de ser quem se é, jogando luz sobre sua ancestralidade e descendência: no mundo por vir há espaço para os seus? Velas de papel coloca sua força nas palavras, criando imagens contundentes e instigantes para uma futura encenação. Apesar da força da linguagem, seria interessante ver no desenvolvimento da dramaturgia propostas de ações que acendam aqueles instantes onde a palavra falada não é suficiente para expressar angústias e alegrias.
Tadeu Renato
Igor Severo é autor, estudante do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro, educador social pelo Centro Universitário Senac, ator amador e skatista.
COMISSÃO DE SELEÇÃO
Integram a Comissão de Seleção do 3º Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí: Luh Maza, Jessica Nascimento Olaegbé, Tadeu Renato e Thiago Leite, com coordenação de Tadeu Renato e Antonio Salvador.
Jessica Nascimento Olaegbéé uma artista do corpo, educadora, dramaturga e historiadora afro-brasileira — mestre em história social e doutoranda no programa de Integração da América Latina PROLAM/USP, dedica-se a pesquisa e criação de Festas, Dramaturgias e Teatros Negros: Relações transatlânticas e afro-caribenhas.
Luh Maza é autora, diretora e atriz. Sua dramaturgia foi publicada na Coleção Primeiras Obras (Imprensa Oficial, 2009) – indicadaao Prêmio Jabuti de Literatura. Entre suas encenações destacam-se Carne Viva (2015),em Portugal, Kiwi (2016), vencedor do Prêmio Aplauso Brasil (espetáculo) e Prêmio SP de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem (atriz); e Transtopia (2019) no Theatro Municipal de São Paulo. Foi jurada do Prêmio Shell de Teatro no biênio 2022 e 2023.
Tadeu Renato é mestre em Letras na UNIFESP. Graduado em Filosofia e Artes Visuais. Formado em Dramaturgia na SP Escola de Teatro. É autor de 20 textos encenados por grupos da capital paulista e do interior do Estado. Tem 04 livros publicados, entre poesia, prosa e dramaturgia, entre eles Licantropia (Selo Cesura) e A pausa, o Pouso (Editora Clóe). É professor de Dramaturgia no Conservatório de Tatuí.
Thiago Leite é ator, professor e dramaturgo. Doutor e Mestre em Educação pela FE-USP, é graduado no curso de Licenciatura em Artes Cênicas da ECA-USP. Integrante da Nossa Trupe Teatral (Tatuí/SP) e da La Luna Cia de Teatro (Canelinha/SC), atua como professor de artes cênicas no Conservatório de Tatuí.
Viviane Juguero é artista da cena no teatro e no audiovisual, com Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado. É autora de peças, filmes, séries, livros, canções e artigos encenados e publicados no Brasil e no exterior. É diretora do Bando de Brincantes. Integra redes nacionais e internacionais.
Antonio Salvador é sul-mato-grossense, ator e pesquisador de teatro. É mestrando em Artes Cênicas na ECA-USP. Lecionou na Escola Livre de Teatro de Santo André, Núcleo Experimental de Artes Cênicas do Sesi-SP e PUC-SP. Como ator, integrou a Cia Teatro Balagan. Atuou ainda em Um panorama visto da ponte, direção de Zé Henrique de Paula; Trilogia Abnegação, Grupo Tablado de Arruar e Cassandra, direção de João das Neves. Recebeu o Prêmio APCA, pela atuação em Recusa, também indicado ao Prêmio Shell de Teatro. Desde 2021 é Gerente Artísitico e Pedagógico de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí.